José Martí

José Martí (1853–1895), cubano, filho de pais espanhóis, iniciou sua participação política escrevendo em jornais separatistas. Com a prisão de seu mestre Rafael Mendive, cristalizou-se em Martí a atitude de rebeldia contra a dominação espanhola.

Em 1869, foi condenado a 6 anos de trabalhos forçados, mas passou somente 6 meses na prisão, pois conseguiu permutar a pena pela deportação à Espanha. Dedicou-se ao estudo do Direito, obtendo, em 1874, o diploma na Universidade de Zaragoza. Entre 1881 e 1895, viveu em Nova Iorque, porém foi no México, na Guatemala e na Venezuela que alcançou o mais alto grau de identificação com as raízes da América.

Para Martí, era um fato grave a Educação latino-americana seguir os padrões europeus e norte-americanos, desvinculados das realidades em que se aplicavam. Convencido de que “Patria es humanidad”, reafirmou o imperativo para Nuestra América de um espírito diferente da América anglo-saxônica, ainda que alimentasse a abertura de Cuba ao mundo. Consciente do risco do expansionismo estadunidense, Martí associou a causa independentista à soberania continental, cultivando uma postura ideológica que o dirigiu a questionar o padrão civilizatório da época.

Nos últimos anos de sua vida, regressou aos EUA, país estrangeiro onde mais tempo viveu, dando continuidade às suas atividades no campo cultural e jornalístico, mas, principalmente, dedicando-se à preparação do regresso à ilha. Nas duas vezes em que conseguiu regressar a Cuba, julgado como conspirador, foi deportado. Em 1895, Martí partiu de Nova York a Cuba para se juntar à tropa Mambí, mas no dia 19 de maio desse mesmo ano, no vilarejo de Dois Rios (Cuba), morreu em combate, sem ver concretizado o sonho de sua vida. A nação independente com que sonhara Martí, uma república que formasse seus cidadãos para o patriotismo revolucionário, deu lugar à denominada República Mediatizada.

O legado de Martí manteve-se na palavra cotidiana dos professores, que inscreveram na memória das crianças seus ideais de luta. Em que pese todas as transformações ocorridas nos últimos 128 anos, desde o desaparecimento de Martí, seu ideário ainda provoca profundas reflexões. Entretanto, a visibilidade dos grandes homens apresenta a tendência de ser proporcional à importância dos países a que pertencem. Os próceres latino-americanos padecem de limitações em nossas terras. Provavelmente, se Martí houvesse nascido numa nação imperial, seu legado político estaria revestido de outra abrangência.

Apesar disso, é possível assinalar a vigência do pensamento martiano, sempre que os movimentos contemporâneos buscam realizar o que era insignificante em séculos passados: desprezar o autêntico e o genuíno, para dar asas ao colonialismo e ao neocolonialismo disfarçados de suposta universalidade.

Maria do Carmo Luiz Caldas Leite, vice-presidente da Associação Cultural José Martí da Baixada Santista

Obras completas de José Martí
No link abaixo, acesso à página da biblioteca digital do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais com a Edición Crítica de las Obras ​C​ompletas​ ​de José Martí (1853-1895), iniciativa do Centro de Estudios Martianos de Buenos Aires com o Ministério de Cultura da República de Cuba.

A coleção, composta por 29 volumes, recolhe todos os manuscritos e impressos de José Martí conhecidos até hoje: proclamações, discursos, manifestos, comunicações, dedicatórias, cartas, reportagens, crônicas, artigos, ensaios, narrações, obras de teatro, poemas, perfis biográficos, traduções, desenhos, rascunhos, fragmentos de escritos e cadernos de notas.