Livro com memórias sobre os 60 anos do golpe será lançado na José Martí
Evento será nesta sexta-feira (26), às 18h, com a presença de dois dos autores da obra, Jose Luiz Saavedra Baeta e Vera Lucia Vieira
A Associação Cultural José Martí da Baixada Santista promove nesta sexta-feira (26), a partir das 18 horas, o lançamento do livro 60 anos do Golpe, gerações em luta (2024), obra idealizada por Francisco Celso Calmon, advogado, ativista e ex-preso político que reúne 60 depoimentos de pessoas que sobreviveram à ditadura militar que governou o Brasil por 21 anos. A atividade acontece na sede da José Martí, na rua Sergipe, 15, Casa 2, no Gonzaga, em Santos.
A obra conta com uma pluralidade de autores, desde ex-combatentes contra a ditadura, ex-coordenadores da Comissão Nacional da Verdade, acadêmicos, escritores, poetas, jornalistas e sindicalistas, entre outros, com textos apresentados em vários gêneros literários, como prosa, poesia, poema, mosaico.
O lançamento vai contar com a presença de dois dos autores: Jose Luiz Saavedra Baeta, do Comitê Popular de Santos Memória, Verdade e Justiça, e Vera Lucia Vieira, mestre e doutora em História. Ela é coordenadora do Cehal PUC-SP e do Observatório das Violências Policiais (OVP), e também da pesquisa CIA DOCAS DE SANTOS/ CODESP: parceria empresa-Estado na repressão aos trabalhadores durante a ditadura empresarial-militar (1964-1985), sobre a qual a newsletter publicou a matéria abaixo.
Baeta conta que relata no livro o trabalho que vem sendo feito pelo comitê na luta pela a preservação da memória política da cidade de Santos. O comitê busca “criar mecanismo que permitam à cidade receber de volta, simbolicamente, o que os militares tiraram dela”.
Confira abaixo entrevista com Vera Lucia Vieira:
Qual o tema de seu texto e como foi desenvolvido?
Resposta: Meu texto no livro, (é) intitulado “O primeiro alvo e mais certeiro tiro da ditadura: os trabalhadores e suas organizações“. As informações contidas no artigo resultam da pesquisa sobre a Cia Docas de Santos/Codesp, encomendada pela Procuradoria Geral da República de Santos, ante a representação feita por trabalhadores, dadas as evidências de abusos à legalidade e graves violações cometidas por estas empresas durante a ditadura (1964-1985).
A senhora participa de um grupo que vem pesquisando o envolvimento de empresas privadas e públicas com ações ilegais e mesmo violentas contra trabalhadores durante a ditadura.
Resposta: Os resultados da pesquisa não só confirmam as denúncias inicias, mas as aprofundam e ampliam. Por exemplo, a superexploração do trabalhador, por um lado, ampliaram as jornadas até a exigência de trabalho aos sábados e domingos sem remuneração, separaram o valor do salário do aumento da inflação; não investiram em novas tecnologias, não aumentaram no plantel de trabalhadores e tiveram um aumento de produtividade em mais de 200%.
Outrossim, mantiveram todos sob vigilância constante, suas lideranças presas, muitos torturados e enviados para o navio Raul Soares, que era um centro de tortura.
É um trabalho recente, porém bem produtivo. Até onde esse fio pode se desenrolar?
Resposta: Esta pesquisa é uma de um conjunto de outras pesquisas sobre 13 empresas que estão sendo investigadas em decorrência das mesmas evidências. Espera-se, abre os resultados obtidos que:
1. Venha à tona essa parceria entre estado/empresa durante a ditadura que, com a desculpa de promover o desenvolvimento, se utilizou da impunidade para praticar abusos e ilegalidade e graves violações contra os trabalhadores.
2. Espera-se que a memória sobre tais atos de lesa humanidade acobertados por essa parceria contra os trabalhadores sejam conhecidos pela população e que a memória destes acontecimentos nunca seja esquecida.
3. Espera-se que os resultados destas pesquisas sejam objeto de ações judiciais por justiça e reparação para os descendentes e para a preservação desta memória para que nunca mais aconteça.
Confira matéria sobre o envolvimento da Companhia Docas com a opressão aos trabalhadores:
Companhia Docas se aliou à ditadura para monitorar funcionários no Porto de Santos
A José Martí inicia neste sábado (19) a série de encontros A Pauta é a Imprensa, com o jornalista Marcelo Oliveira, que participou da série de reportagens da Agência Pública sobre o envolvimento de empresas com a ditadura. O encontro será a partir das 19 horas, na sede da associação, na Rua Sergipe, n° 15, Casa 2, Gonzaga em Santos.