Um poema de Mahmoud Darwish escrito sob cerco
Excertos de "Under siege", escrito em 2002, em Ramallah, durante uma invasão israelense que o impediu de deixar a cidade
Mahmoud Darwish (1941-2008) é um premiado escritor palestino. Sua literatura, principalmente a poesia, trabalha em torno da identidade palestina e busca resistir ela mesma à ocupação de sua terra natal. A tradução foi feita e enviada por
, que nomeou o conjunto de excertos por Poema para a Palestina.
Under siege (Poema para a Palestina)
– Aqui, nas encostas das montanhas, ante o crepúsculo e o canhão do tempo,
perto dos jardins de sombras partidas,
fazemos o que fazem os prisioneiros,
o que os desempregados fazem:
Cultivamos a esperança.
{...}
Aqui não há “eu”.
Aqui Adão se lembra, ao pó retornará.
{...}
Sós, estamos sós como o pó,
não fossem as visitas do arco-íris.
{...}
Se você não for a chuva, meu amor,
seja a árvore
saciada de fertilidade, seja a árvore
Se você não for a árvore, meu amor,
seja a pedra
saturada de umidade, seja a pedra
Se você não for a pedra, meu amor,
seja a lua
no sonho da mulher amada, seja a lua
(Assim disse uma mulher
a seu filho em seu funeral)
{...}
Um pouco desse infinito absoluto azul
bastaria
pra aliviar o peso desses tempos
e limpar a lama desse lugar.
{...}
No estado de sítio, o tempo se torna espaço
paralisado em sua eternidade
No estado de sítio, o espaço se torna tempo
perdido, sem ontem nem amanhã.
{...}
O cerco vai durar até nos convencer de que devemos escolher a escravidão, que é a plena liberdade!
{...}
E no que resta da aurora, ando além de mim
E no que resta da noite, ouço o som de passos dentro de mim.
***
Viva quem vê comigo
a embriaguez da luz, a luz da borboleta, no
fim do túnel, a liberdade!
{...}
E outras coisas na memória suspensas
revelam que esta manhã é esplêndida e potente,
e que somos os convidados da eternidade.
obrigada!
Sublime o poeta que faz a beleza servir à tanta tristeza, há tanto tempo.