Lançamento na José Martí discute as relações entre capitalismo, liberalismo e racismo
Segundo encontro da Jornada Luiz Gama, bate-papo sobre "Discurso sobre o branco", de Leonardo Sacramento, acontece no sábado (16), às 19 horas
A Associação Cultural José Martí promove neste sábado (16) o lançamento do livro Discurso sobre o branco: notas sobre o racismo e o “apocalipse” do liberalismo (Alameda, 2023), do professor, mestre e doutor em Educação Leonardo Sacramento. O livro é um ensaio analítico sobre a relação entre capitalismo, liberalismo e racismo. A atividade acontece a partir das 19 horas na sede da Martí na Rua Sergipe, nº 15, Casa 2, no Gonzaga, em Santos. Durante o bate-papo com o convidado, a casa estará com o bar aberto, com mojitos, bebidas e petiscos. A livraria Celia Sánchez também estará de portas abertas.
Discurso sobre o branco
Sacramento conta que o livro nasceu do incômodo diante da forma como o racismo é contemporaneamente pautado, vinculando a sua superação com o empreendedorismo em uma das conjunturas mais adversas aos trabalhadores negros, majoritariamente desempregados, desalentados e precarizados na informalidade.
O autor desconfia da assunção dessa pauta pelo grande capital, como banqueiros, justamente em um momento que mais acumulam capitais. Ele pergunta: “Ora, estaria o acúmulo de capitais desvinculado da racialização e do racismo?”
O racismo contemporâneo é produto do capitalismo, uma construção do liberalismo a fim de justificar não somente a exportação de capitais para a África, América Latina e Ásia, mas para difundir uma noção de igualdade assentada na opressão sobre os não livres, os negros e nativos. “Em outras palavras, o racismo pressupõe uma noção de igualdade que é universalizável a um grupo, os brancos da classe dominante e da classe média tradicional. Nos últimos anos, fundações e meios de comunicação investiram em projetos e ações que chamam de ‘antirracistas’, desvinculando os conceitos de capitalismo, imperialismo e liberalismo um do outro, como se o racismo fosse algo alheio ao modo de produção, e transformando aqueles que lucram com o racismo em ‘antirracista’.
O livro se propõe a analisar a forma pela qual os grandes capitais estão se apropriando da luta popular pelo fim do racismo por meio da individualização da racialização, em detrimento de sua relação com a estrutura político-econômica de acumulação de capitais, notadamente sobre “costas negras”.
O livro caminha em torno de algumas questões: Quais são os interesses políticos de banqueiros em financiar projetos “antirracistas”? Quais são os interesses de bilionários se apresentarem como “antirracistas”? O que objetivam os meios de comunicação ao assumirem demandas da identidade histórica e estética dos negros brasileiros? São questões fundamentais para compreender o contexto político-econômico, inclusive o bolsonarismo e as afinidades e divergências no bloco da classe dominante com ele.
O autor
Leonardo Sacramento é professor da EMEF Paulo Freire, em Ribeirão Preto, e pedagogo do IFSP, com mestrado e doutorado em Pedagogia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Seu doutorado analisou o impacto da política de inovação e ciência e tecnologia sobre a universidade pública, resultando na publicação do livro A Universidade Mercantil: um estudo sobre a relação entre universidade pública e o capital privado (Editora Appris). É autor também do livro O Nascimento da Nação: como o liberalismo produziu o protofascismo brasileiro (Vols. I e II, Editora IFSP).
Jornada Luiz Gama
A conversa com Sacramento faz parte da Jornada Luiz Gama, pela qual a José Martí promove até novembro uma série de encontros para discutir as relações entre racismo, sociedade e classe no Brasil com lançamento de livros, discussão de obras literárias e bate-papos com autores. A programação teve início em agosto com a presença de Camilo Caldas, do Instituto Luiz Gama, relator do grupo de trabalho sobre enfrentamento ao discurso de ódio do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), e já tem novo encontro marcado para o próximo sábado (23), com a professora de Língua Portuguesa Cecília Gonçalvez Lopes, que vai falar sobre o romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalvez.