Aníbal Ortega recebe a Medalha de Honra ao Mérito Braz Cubas
Reconhecimento da Câmara Municipal de Santos ao presidente da José Martí é de autoria da vereadora Débora Camilo
O presidente e fundador da Associação Cultural José Martí da Baixada Santista Aníbal Ortega recebe nesta sexta-feira (19) a Medalha de Honra ao Mérito Braz Cubas. O reconhecimento da Câmara Municipal de Santos a Aníbal é de autoria da vereadora Débora Camilo. A solenidade ocorre na Sala Princesa Isabel, na Prefeitura de Santos, a partir das 19 horas. O Paço Municipal fica na Praça Mauá, s/nº.
Ironia do destino, devido à reforma da Câmara Municipal Aníbal receberá a medalha na Prefeitura, na sala Princesa Isabel, também conhecida como salão nobre, cuja mesa, na foto abaixo, tirada por José Dias Herrera feita nos dias seguintes ao golpe de 1964, tornou-se uma marca visual do jugo da força militar sobre a sociedade.
Como autora do projeto, a vereadora fará a saudação. Ao anunciar a honraria em suas redes sociais, Débora Camilo escreveu:
Desde o início da minha trajetória pelas causas populares, tenho seu Aníbal como referência política e a José Martí como um espaço de luta e refúgio. É uma honra poder homenagear Aníbal Ortega e tudo que ele representa.
Vereadora Débora Camilo
A vereadora ainda destaca o papel da José Martí em Santos como uma “referência política e cultural” na cidade, desenvolvendo cursos, festas, palestras, debates e ciclos de filmes. “A Associação hoje também é referência na luta por moradia digna, pela reforma urbana e pelo direito à cidade, sendo uma entidade ativa na Campanha Despejo Zero, uma iniciativa que, durante a pandemia, impediu a retirada forçada de várias famílias de suas casas”.
Fundador da José Martí em 2012 e atual presidente, Aníbal Ortega está presente em todos os eventos de resistência na região à frente desta casa para promover o socialismo, a revolução e a solidariedade entre os povos.
Minha vida se confunde com a vida da Associação. Estou no fim da minha jornada, mas continuo lutando.
Aníbal Ortega, 20 de outubro de 2023, Dia da Cultura Cubana
Em 20 de outubro de 2023, em sessão na Câmara Municipal de Santos alusiva ao Dia da Cultura Cubana, Aníbal Ortega defendeu a presença de médicos cubanos no Brasil: “Diferente dos Estados Unidos, Cuba não espalha bombas, espalha solidariedade. O que aconteceu lá foi uma revolução não só para os humildes de Cuba, mas para os humildes de todo o mundo”.

A casa na Rua Sergipe
O endereço de sua casa na ficha do DOPS revela uma trajetória que confunde a vida familiar com a vida política. É ali na Rua Sergipe, nº 15, que fica atualmente a sede do José Martí. Quem já teve a experiência de conversar um pouco com o presidente da casa provavelmente já deve ter ouvido alguma história envolvendo ações comunistas em torno do endereço que confunde a história da família e do comunismo na cidade. Completando 79 anos em 2024, Aníbal é o representante da terceira geração de uma família de comunistas. Seu avô foi fundador do PCdoB em Santos em 1922, ano da criação nacional do partido.
Perfil
Também não é o caso de hagiografia, apenas de constatar que sua luta é pela dignidade humana. Aníbal Ortega é também um homem comum, está há meses na fila do SUS para fazer um exame e outro dia caiu na calçada por causa dos buracos da administração municipal, o que só mostra que a luta ocorre no dia-a-dia em todas as esferas da sociedade.
Aníbal foi comerciante em Cubatão por muitos anos, militou 52 anos do PCB, construindo o partido na região desde sua juventude. Foi preso e torturado pela ditadura na década de 1970. Após a redemocratização, participou da fundação da União Cultural Brasil-URSS, que, através da cultura soviética, discutia o socialismo. Ao romper com o partido, organiza com outros camaradas o grupo Arma da Crítica e, em 2012 funda a Associação Cultural José Martí da Baixada Santista, espaço cultural criado em solidariedade ao povo cubano que reivindica o fim do bloqueio econômico contra Cuba.
Unindo-se às reflexões que vêm sendo feitas pela sociedade civil sobre os 60 anos do golpe de 1964, a newsletter da José Martí publica a seguir alguns trechos do discurso de Aníbal Ortgea proferido em sua homagem em Cubatão no ano passado:
O golpe de 64 foi uma derrota em dupla sentido: da possibilidade de transformações econômicas e sociais.
De ordem pessoal, representou a frustração de toda uma geração que acreditava que a revolução estava virando a esquina, a gente via a juventude se conscientizando, a classe operária se conscientizando.
A ditadura não poupou ninguém, desde os que foram para a luta armada como os que atuaram nos movimentos sociais.
Não fizemos os militares pagarem pelas torturas e estupros que cometeram nos porões.
Discurso que ele concluiu com uma referência à atual conjuntura:
Mais uma vez forças fascista e autoritárias, saudosistas da ditadura, tentam impedir o progresso social do povo. Não podemos deixar que novamente essas forças, que no fundo representam como em 64 os mesmos interesses da classe dominante, consigam impor um novo regime de exceção em nosso país. É urgente que a classe trabalhadora e as forças democráticas se mantenham unidas para impedir qualquer aventura golpista.
Não podemos admitir uma repetição de 64. Ditadura nunca mais, contra a fome, a miséria e o desemprego. Venceremos!
Aníbal Ortega