A memória da cidade em cartaz
Documentário sobre a Ocupação Anchieta no dia 23 e encontro na Casa das Culturas no dia 25 trazem depoimentos sobre a História recente de Santos
Na quinta-feira e no sábado (dias 23 e 25), duas atividades vão reunir depoimentos sobre a história recente da cidade de Santos.
Na quinta, dia 23, estreia no Teatro Guarany, às 19 horas, a sexta temporada da websérie Doc de Domingo — Casa Anchieta: do horror à ocupação — com a trajetória do prédio que serviu de manicômio fechado definitivamente pela Prefeitura de Santos em 1996 e que agora é uma ocupação em luta contra a especulação imobiliária. O Guarany fica na Praça dos Andradas, 100, no Centro. Entrada franca.
Em cinco episódios, o documentário conta com depoimentos de antigos pacientes e funcionários e atuais moradores, além de pessoas ligadas à luta por moradia na cidade, como a advogada popular e diretora de Direitos Humanos da Associação Cultural José Martí Gabriela Ortega.
Encontro
No sábado, dia 25, ocorre a primeira edição do projeto Santos é uma História, com o advogado e escritor Luiz Rodrigues Corvo e o cientista político e professor Alcindo Gonçalves, com mediação do jornalista Carlos Conde. O encontro ocorre a partir das 16h30, na Casa das Culturas de Santos, na Rua Sete de Setembro, 49, na Vila Nova. A entrada é franca.
Além de ex-vereadores de Santos, ambos têm obras que se debruçam sobre a vida política da cidade. Corvo é autor de Santos em transe: o sindicalismo aguerrido. Memórias de seis greves gerais (1960-1964), em que, por meio de um personagem ficcional, o jovem jornalista Rubens, traça um panorama da agitação política daqueles anos no município. O livro foi lançado pela Realejo Editora em 2021.
Em Lutas e sonhos: cultura política e hegemonia progressista em Santos (1945-1962), de 1995, já um clássico da sociologia, Gonçalves busca explicar por meio dos resultados eleitorais da cidade a “inclinação” histórica da cidade pelos temas da “liberdade, da autonomia e da transformação social”.
Patrimônio
Os depoimentos, gravados em filme ou escutados nos encontros, têm a função social de transformar a experiência, o vivido, em relato, narração, como escreve a ensaísta argentina Beatriz Sarlo Em Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva:
Não há testemunho sem experiência, mas tampouco há experiência sem narração: a linguagem liberta o aspecto mudo da experiência, redime-a de seu imediatismo ou de seu esquecimento e a transforma no comunicável, isto é, no comum.
Patrimônios imateriais, os depoimentos sobre a Ocupação Anchieta e sobre a história política de Santos serão vistos e ouvidos em dois patrimônios materiais da cidade.
O Teatro Guarany é o primeiro edifício construído para fins teatrais em Santos, tendo sido inaugurado em dezembro de 1882. Na década de 1950 acaba sendo destinado a fins não artísticos e foi praticamente destruído por um incêndio em 1981, que poupou apenas as paredes externas. Reconstruído e entregue em 2008, tem interior moderno e a fachada de inspiração neoclássica do projeto original.
Já a Casa das Culturas de Santos, inaugurada em 19 de abril, é um novo espaço para a produção artística da cidade. Ela ocupa um casarão tombado e restaurado de estilo eclético construído em 1900 para ser residência de funcionários da Companhia Docas de Santos. O local é gerido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos e conta com a curadoria do escritor Flávio Viegas Amoreira.